domingo, outubro 08, 2006

Para o Pedro, Escultor


A escultura e ser Escultor é para o Pedro Figueiredo uma grande paixão. Disso não precisaria de me dar conta em momentos de múltiplos encontros, porque eu vi, porque eu acompanhei os seus entusiasmos.
As obras agora expostas são disso reveladoras, desse exercício contínuo e apaixonado do fazer.
Não evito nestas palavras na circunstância agora escritas, contrariando o sentido e a profundidade que ao crítico compete nestas ocasiões, de esboçar declaradamente, a admiração que tenho pelo Pedro. Cedo manifestou vontade de utilizar matérias que lhe permitissem diálogos constantes no esboço antes de serem esculturas definitivas e a plasticidade do barro veio ao seu encontro. O que agora nos mostra é o resultado de um saber e de uma experiência que vem acumulando. Nele, é pois, de realçar a tenacidade e o espírito disciplinado, sempre aberto ao conhecimento no que às questões filosóficas da arte e curiosidade do saber fazer diz respeito. Uma espécie de vocação para a clareza e a segurança.
As suas esculturas identificam-se e são de convergência temática. Não divergem. Uma declarada intenção de coerência, que se adivinha noutros ciclos de uma obra que todos esperamos mais vasta e que aguardamos. O resultado traduz-se numa linguagem plástica que nos recorda Giacometti quando na representação do corpo, corpo sem órgãos, quase ausência por vezes, ou as superfícies das obras de Epstein tão ricas pela vibração do amassamento[1] da matéria e pela gestualidade dos grafismos nelas desenhadas.
Pedro Figueiredo usa a modelação como forma do dizer imediato depois de pensar a composição, apoiado em princípios vectoriais da centricidade e excentricidade[2] na ausência de grandes massas.
São figuras que desenham ritmos, por vezes em esforço numa preocupação de equilíbrios, sempre presas ao solo pela exagerada volumetria das extremidades. Os pés ou as mãos habilmente modeladas. E se a projecção se faz por vezes no espaço isso deve-se à postura que as figuras nele descrevem.
Podemos pois, ler o conjunto destas esculturas como uma representação cabendo a cada uma, uma atitude, uma pose, um papel diferente no palco do espaço. Os seus olhares dirigidos funcionam como vectores do equilíbrio, já que de equilíbrios vivem estas figuras.
É da mão do Escultor, solenemente vestido de branco, da cor do gesso, com botas de Van Gogh, um quadro mimético em momentos bem definidos da criação, que nasce a obra do Pedro. Essa extremidade do seu corpo que resolve a ideia. As mãos que Anaxágoras pensava ser o seu uso que torna o homem inteligente e como tal mais criativo, acrescento eu.

Artur Moreira
Fevereiro2006
[1] Rudolf Wittkower
[2] Rudolf Arnheim

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